18.2.10

Crescer na floresta

Há uns meses atrás, uma amiga disse-me, a propósito da minha angústia, que eu era como uma árvore. Para crescer precisava de espaço, de encontrar o meu próprio espaço, precisava que as outras árvores, que sempre tinham estado muito perto de mim, se afastassem um pouco, para que eu pudesse encontrar o meu lugar na floresta. Nunca mais me esqueci desta ideia e em momentos de maior sofrimento tento lembrar-me dela e do poder do seu significado. Hoje, com algum tempo e enquanto o sol despontava e acalmava as nuvens mais negras, passeei um pouco pelo campo, a observar e a pensar nisto. As árvores, quando crescem todas juntas acabam por ficar atrofiadas e nunca se desenvolvem como poderiam desenvolver se tivessem um pouco mais de espaço, o seu espaço. Basta olhar à nossa volta e reparar nisso. As árvores maiores, mais frondosas e diferentes são aquelas que estão um pouco mais afastadas das outras. As que estão muito juntas são quase todas iguais, com a sua individualidade, é certo, mas sem grandes diferenças que nos façam reparar mais numa que noutra. Ser diferente é difícil, tentar seguir o nosso próprio caminho dói muito, às vezes implica até alguma solidão, crescer não é tão cor-de-rosa como as histórias infantis mostram, mas se queremos ser nós próprios e não apenas uma cópia do que todos os outros são, o sacrifício há-de valer a pena. Vale, pelo menos, na nossa consciência e no nosso coração.

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