O meu baú

Quem me conhece já há alguns anos, associa a mim a imagem de um "baú". Há muitos anos atrás, a minha tia "Mimi" (que nunca se esquece dos aniversários de toda a gente da família!) ofereceu-me um baú... Na altura pensei "para que me servirá?" e lá ficou, numa mesinha do meu quarto. Muitas vezes olhava para ele e pensava: "que tesouros poderia guardar ali dentro?"... E ele continuava vazio, pensava eu...
Um dia, no meu ano de estágio, lembrei-me que aquele baú tinha tudo a ver com o que ia começar a fazer: sessões em grupo com idosos! Porque não utilizar o baú como metáfora da memória, das histórias de vida, dos segredos por contar, dos tesouros de afectos que todos temos e que guardamos no cantinho do nosso coração... E aquele baú tão especial começou a acompanhar-me sempre e tornou-se um hábito das nossas sessões. Já todos sabiam que de dentro do baú sairia algo que os surpreenderia: aromas e sabores deliciosos, provérbios, fotografias, cartas, histórias... Já nessa altura os idosos diziam "do meu baú das recordações faz parte...". O meu relatório de estágio chamou-se "O tesouro dos afectos" e tinha na capa... o meu baú!
Uns anos depois, o meu baú voltou a fazer parte do meu trabalho, com os adultos que acompanho e a quem proponho que o construam. Eu própria construí o meu e percebi que, por muitos objectos que lá tenha guardados, os maiores tesouros que o meu baú tem não se vêem nem são palpáveis. Os maiores tesouros são as pessoas que têm passado pela minha vida e me têm ensinado tanto! Os maiores tesouros são os AFECTOS...
Por isso, hoje que completo 27 anos, resolvi iniciar aqui um novo "baú", mais moderno é certo, mas onde penso ir guardando muitos outros tesouros, como pensamentos, sentimentos e a minha forma de ver e viver o mundo...
No meu baú estão todos vocês!...