30.12.08

Adeus, avô!...

Querido avô…
Ainda não acredito que te perdemos para sempre… estás tão presente ainda!... às vezes penso que ainda estás no hospital, onde te deixei há dias, mas que vais voltar para junto de nós… Eu senti que te ia perder no último dia que estivemos juntos, mas aquela esperança parva que fomos alimentando não me permitiu despedir de ti… ainda sinto a tua mão a apertar-me com força, já não falavas, mas dizias tanto! Ainda sinto o cheiro tão delicioso da tua pele, o toque macio do teu cabelo, que penteei tantas vezes (gostava de te ver arranjadinho, como tu me ensinaste), a tua boca a beijares-me a mão, feliz pelos mimos que te dei com tanto carinho como tu me deste a mim toda a vida… Ainda vejo os teus grandes e lindos olhos azuis a olhar para mim e a perguntar com a dedicação que sempre tiveste para com a minha formação: “Sempre te atreves a fazer a doutorice?”… “Não sei avô, acho que é muito difícil…”. Mas vou-me atrever, custe o que custar, demore o que demorar, para te honrar e para te homenagear, porque sempre nos incentivaste a evoluir, a aprender, a saber mais. Não te contentavas com o que tinhas, quiseste sempre mais... Acho que saí a ti, nesse como noutros aspectos. Ainda vejo o teu sorriso maroto quando fazias ou dizias alguma brincadeira, o teu piscar de olhos cúmplice quando te “metias” com a avó e ora a fazias rir à gargalhada, ora a deixavas irritadíssima e a praguejar… mas acaba sempre a rir-se, nem que fosse às escondidas… porque te amava, porque viveram um amor daqueles que não sei se ainda há… Como vai ser agora sem ti, avô?... Alguma vez voltarei a ouvir aquelas gargalhadas que me alimentavam a alma?...
Quero-me lembrar sempre da tua coragem, da tua força, daquela força que contrariou todos os diagnósticos que até te davam como demente… Mas tu não aceitaste, lutaste e (terá sido milagre?... o que foi?...) recuperaste de forma incrível toda a memória, aliás, parecia ainda mais fresca e intacta do que há dez anos atrás! Ao fim do dia eras o meu "telejornal", contavas-me todas as notícias do dia, que ouvias atentamente na rádio e na televisão. Contavas as histórias de toda a tua vida com todos os pormenores, incluindo os dias do ano… e eu sabia que era verdade, porque já tas tinha ouvido tantas vezes!... Hoje queria ouvi-las mais uma vez e outra e outra e outra, até à exaustão… ouço-as na minha cabeça e tento não esquecer nenhum pormenor… mas a minha memória é muito mais fraca que a tua e alguns já me escapam… Volta, avô, para as contares novamente e para não me deixares esquecer…
Eras um homem bom, avô, “uma jóia”, como dizia uma amiga tua ao despedir-se de ti. Foi por isso que todas as pessoas da nossa terra (e muitas mais de outras) te vieram prestar a última homenagem. Nem uma faltou avô, todos os teus amigos, de muletas, doentes, sem poderem andar, saíram de suas casa num dia gelado e chuvoso de Inverno para te dizerem que te admiravam e que ias fazer muita falta. E nós sentimo-nos pequeninos perante tamanha homenagem… e tu sentiste-te feliz, emocionado e orgulhoso, eu sei! Recebeste naquele momento tudo o que deste em vida: carinho, amizade, dedicação. Foste amigo de todas as pessoas que se cruzaram contigo, deste muitas vezes tanto aos de fora como aos de casa (ajudavas toda a gente, o que deixava a avó fula! :)), mas isso só me enche de orgulho! Ensinaste-me aquilo que não se aprende em nenhuma escola, foste o meu melhor professor da vida! E eu sei que fui uma neta com muita sorte pelo avô que tive! Sou egoísta, eu sei, porque te queria ter sempre comigo, mas já tive tanto!... Não podia pedir e ter mais do que tive. Fui tão feliz contigo avô!... E é por isso que já sinto tanto, mas tanto a tua falta!... E é por isso também que te amarei sempre, profundamente!...

2 comentários:

Anónimo disse...

Vim aqui, tão simplesmente, deixar um beijinho grande de Força!

Neo disse...

Na minha perspectiva não perdeste o teu Avô para sempre... Como nos contas, todos os momentos vividos iram sempre perdurar na tua cabeça e no teu coração... São muito bonitas as tuas memórias do teu Avô (as que partilhas connosco). Bjinho,

M