5.1.09

Querido avô...

Os dias passam e cada vez sinto mais a tua falta, a tua ausência. As pessoas dizem-me todos os dias, com a maior boa-vontade: "A vida continua, o teu avô está sempre contigo, está vivo no teu coração". Eu sei disso, avô, sei que estás vivo na minha memória, mas não estás aqui!... Não te posso tocar, abraçar, ouvir, sentir... E isso custa-me tanto!! Vejo as tuas fotografias e parece que têm vida, parece que ainda tens vida... o teu sorriso, o teu olhar, as tuas lágrimas... Emocionavas-te com as coisas mais simples da vida, com o amor das outras pessoas para contigo, com o nosso sucesso e felicidade. Quantas vezes chorámos os dois?... Não o conseguíamos evitar, éramos os dois sensíveis a muito mais coisas do que a maioria das pessoas, que às vezes não compreendiam a nossa emoção. Mas nós não precisávamos de palavras ou de explicações, o nosso olhar dizia tudo.
Quero e preciso falar, mas não sei com quem, não sei como. Às vezes sinto que ninguém me compreende, por isso acabo por não dizer nada. E sinto-me sozinha, perdida, vazia. Tento falar contigo, mas as palavras não saem, como se falar tornasse ainda mais real a minha dor. Por isso escrevo. Pode ser o maior disparate, mas alivia-me. Mas depois penso como uma criança: "será que no céu há caixas de correio?"... Como te faço chegar esta carta, avô? E como me podes responder? "Mas o céu existe? Onde é o céu, afinal?", pergunto como a criança desta história, sem conseguir encontrar a resposta...

“O pai regressou dos ritos funerários. O seu filho de sete anos estava à janela, de olhos arregalados e um amuleto doirado ao pescoço, cheio de pensamentos demasiado difíceis para a sua idade. O pai levantou-o nos braços e o rapaz perguntou-lhe, «Onde está a mãe?». «No céu», respondeu o seu pai, apontando para cima.
O rapaz ergueu os olhos para o céu e fixou-o longamente em silêncio. A sua mente perplexa lançou longe a questão, através da noite, «Onde é o céu?». Não obteve resposta: e as estrelas pareciam as lágrimas em chamas daquela ignorante escuridão.”

Tagore

Hoje quero ser novamente a criança que fui, fechar os olhos e acreditar ingenuamente que o céu existe e é um lugar tranquilo, cheio de algodão fofinho, onde as pessoas passeiam felizes, onde tu estás em paz, sem sofrer... Hoje quero simplesmente fechar os olhos e acreditar ingenuamente que tudo isto não aconteceu, que ainda estás aqui a apertar a minha mão... Porque não somos imortais?!...

2 comentários:

Anónimo disse...

Há 10 anos atrás uma viagem e uma estadia de alguns dias roubou o que restava da vida da minha Avó. Mesmo quando a vi deitada, naquela "caixinha de madeira", não parecia querer acreditar. Talvez porque tudo tinha acontecido longe de mim e não assisti aos últimos suspiros. Durante meses custava-me entrar naquela casa que perdeu as duas vidas que lhe davam cor. Apenas o relógio antigo, de corda, continuava a dar-lhe algum som.
Escrevi muito, porque por mais que eu pudesse falar pensava que ninguém iria compreender a razão pela qual me sentia tão vazia e tão sem norte. Durante meses esperei que a minha Avó regressasse do hospital. Mas nunca regressou.
Agora, apenas as flores vão sendo mudadas periodicamente (para, pelo menos, manter aquele espaço um pouco vivo).
E a casa, essa também está viva. Uma mudança forçada imprimiu-lhe de novo movimento e sentido. Voltei a sorrir, mas passados quase 10 anos, a cicatriz permanece.

O importante é alimentar as boas recordações! O tempo (a seu tempo) trará as resoluções para tudo! Escrever alivia, pois há sempre "alguém" que escuta e lê todas as palavras!
Essencial: nunca perder a força, nem baixar os braços, nem perder o ânimo!
Beijinho,
Isa

Deworah disse...

Nao, nao és criança, nao, nao sao perguntas idiotas...
Ha anos tambem perdi o meu avô...aquela pessoa que me levava à escol, me trazia um chocolate ao domingo, jogava comigo às cartas e me ensinava as contas de multiplicar...o meu avô...
No dia em que fui de cartola e bengala, só pensava nele...e na pena que tinha por nao me poder ver naquele momento, ele que viu todo esse processo começar...
Agora quando penso nisso, sei que devia ter dado mais de mim, que lhe devia ter dado mais valor...devia ter feito tanta coisa...
As lagrimas cae, é inevitável...e quando quis dedicar a minha monografia tambem a ele...ouviram piadas como: "nunca falaste dele nestes anos, e agora queres colocar aqui em dedicatoria?!"...mas eles nao sabem...
Eu entendo te, em tudo...e nao, nao somos infantis, somos HUMANAS e as pessoas humanas sofrem com a perdam dos seus entes queridos...e vão sofrer...mesmo que passem anos. A dor muda, mas é dor à mesma.
Força amiga!