26.2.09

Luz

Hoje entrei novamente na "minha" igreja. Sabes que digo minha de uma forma especial, pelos momentos que lá vivi e que ninguém nunca poderá compreender, apenas Tu e eu. Entrei e recuei alguns anos, o tempo parou e eu recordei, com tanta saudade que me fez doer o coração. Eu estava a crescer, tinha sonhos, desejos, paixões. Tinha amigos que partilhavam comigo esse crescimento, essa mudança. Passávamos ali noites, conTigo como cúmplice. Cantávamos, dançávamos, ríamos, chorávamos... A Joana era uma dessas pessoas. Lembras-te Joana? Claro que te lembras! Ficávamos até à meia-noite, uma da manhã, deitadas no chão, naquela carpete suja ou no banco de madeira... Levávamos uma manta, mas o frio era tanto que tanto que quase congelávamos. Às vezes também ficávamos às escuras, apenas com aquela velinha como presença. O silêncio era palpável, tal como a paz e a luz. Falávamos, falávamos, falávamos, as palavras não se esgotavam, tínhamos sempre mais e mais a dizer. Hoje olhamos uma para a outra e abraçamo-nos apenas, em silêncio. Sim, porque os nossos silêncios e as nossas ausências continuam a transbordar de palavras! A Ti Deolinda era a segunda cúmplice: "ponham a chave debaixo da telha quando forem embora". E lá ia, a rir-se das nossas maluquices de adolescentes. Quando ficávamos sozinhas era a melhor parte, podíamos falar dos nossos amores encontrados ou desencontrados, sempre em segredo, só Ele nos podia ouvir e entender. Pelo meio rezávamos e cantávamos. Não era heresia, Deus sabia a inocência e o amor com que o fazíamos. Tínhamos uma fé inabalável, que nos ajudou a ser o que somos hoje, não tenho dúvida. Tu és uma enfermeira dedicada, a procurar ajudar os outros em momentos difíceis das suas vidas, em que o corpo falha. Eu tento fazer o mesmo, mas em relação à alma. Coincidências?... Tenho a certeza que não, tenho a certeza que aquelas noites deitadas no chão da "nossa" igreja, com tanta simplicidade, mas igual beleza, nos ajudaram a ser o que somos agora. Hoje quero-te dizer que sinto tantas, mas tantas saudades tuas!... Fecho os olhos e, por momentos, estou outra vez deitada naquele chão sujo, mas tão reconfortante, onde cresci e fui tão feliz!

1 comentário:

Astrid disse...

Minha querida... que lindo...
...
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ali acima sou eu a pensar :)
Beijos!!!