
Deito-me na cama, tento ler páginas das quais não consigo fixar qualquer palavra, largo o livro, apago a luz. Fecho os olhos, mas o sono não vem. Viro-me uma e outra vez, vejo o reflexo do relógio, as horas passam, a noite, minha eterna companheira, fica cada vez mais silenciosa. E eu aguardo, na ânsia de que esse silêncio me ajude a adormecer. Mas não, nem assim o sono vem. Revejo o meu dia como se de um filme se tratasse... imagens, vozes, palavras... o que fica de mim neste dia? O que fica de mim nos outros?... Percebo que nada fica, porque nada dei. Fechada em mim, afastada do mundo, fecho os olhos e tento dormir. Chamo o sono pelo nome, choro por ele, mas não me responde. E fico assim, só eu, fechada em mim, a chorar por um sono que me faça esquecer todas as perguntas que me povoam o pensamento... O que fica de mim no fim?...
2 comentários:
O Sono
O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.
Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha e não nos deixa sós, porque deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso"
Charlie chaplin
Para quem se cruza consigo não existe fim, apenas intrevalos... pois de vez em quando vêm-nos à memória. Pela força que transmite(perto de si sentimo-nos capazes de tudo!), pelo profissionalismo(quantas vezes já dei por mim a olhar para si numa sessão e pensar "Deus queira que um dia a minha filha tenha este prefil profissional"), pela humildade, pela sabedoria( não só a sabedoria dos estudos, mas também a das emoções) pelo carinho e por esse SORRISO!
A Mafalda passa, a vida é assim mesmo, mas não será esquecida pois de si fica-nos muito, por isso nos é tão preciosa.
Vai ver que daqui a muitos anos, quando eu for chata e rabugenta(ainda mais mais do que já sou!), ainda lhe vou aparecer à porta de bengala numa mão e uma rosa branca na outra.
Apetecia-me dar-lhe um abraço... dar-lho e recebê-lo! beijinhos L.E.
Enviar um comentário