
Todos os anos, os meus avós iam com antecedência alugar o fato. Era um vestidinho branco, não sei de que tecido, mas fino, suave, macio, esvoaçante. Os meus sapatinhos eram brancos, sempre a condizer. Nas costas umas asas fofinhas, repletas de penas, que me magoavam imenso, mas que no fim do dia não queria tirar. Na cabeça uma auréola, presa por um elástico que me feria as orelhas e que me dava vontade de arrancar. Afinal, a auréola dos anjos não precisa de estar presa por um elástico, flutua simplesmente! Nas mãos uma cruz, branca também. Anos e anos me vesti de anjinho. Tudo era um mistério para mim, mas que eu achava mágico. Era um dia especial, em que me sentia verdadeiramente um anjo, mais pertinho de Deus. Custou-me deixar de ser anjo, ainda hoje olho para os meninos, já sem asas ou com fatos de cores fluorescentes, e tenho saudades das asas que me magoavam as costas. Hoje, na Procissão, já não há anjos, apenas umas amostras de uns Santos que ninguém conhece muito bem. Continuo a achar os anjos tão simples e tão cúmplices de Deus que todos os anos, neste dia, vou buscar as fotografias desses dias ao baú. Nalgumas estão o meu bisavô (que saudades do queijo vermelho que comíamos juntos nos degraus da tua casa!), a minha avó (linda, linda e feliz!) e o meu avô (sorridente e orgulhoso...). Noutras a minha mãe (jovem, cheia de energia, que agora não lhe consigo encontrar), noutras apenas eu, concentrada no meu papel, que levava sempre muito a sério.
Cada vez mais gosto de anjos, gosto de os imaginar com asas cheias de penas, com auréolas que flutuam sobre os cabelos de seda, com vestidos esvoaçantes e com sapatinhos brancos. Anjos que nos protegem, que cuidam de nós enquanto dormimos ou estamos doentes, que riem e dão pulos de alegria quando estamos felizes, que nos põem a mão no ombro e choram connosco quando sofremos, que mesmo quando temos dúvidas ou nos esquecemos deles não nos abandonam. Anjos da Guarda.
5 comentários:
Ler o teu texto ao som do Lullabye que publicaste uns posts atrás foi algo infinitamente mágico nesta sexta feira que se pretende santa e mágica.
Adorei o texto. Sentido e profundo como todo o sentimento deve, ou deveria ser.
Boa Páscoa.
Querida Mafalda,
"Anjinho da Guarda minha companhia guarda a minha alma de noite e de dia."
Todos os dias rezo esta simples oração que também ensinei aos meus meninos.
Por ser tão simples faz-me sentir sempre pequenina e protegida.
Feliz Páscoa.
Beijinhos
F
Olá "MoonDreamer"!
Obrigada pelo comentário, pela visita e por "me" seguir. Também vou ser leitora atenta dos seus espaços! :)
Escrevo apenas o que sinto, o que observo e aquilo que mexeu ou mexe comigo. Por isso talvez seja profundo, porque sai do coração. :)
Uma Páscoa feliz!
Mafalda
Olá F.!!
Também eu rezo todos os dias essa oração, bela pela sua simplicidade e porque me faz sempre sentir uma criança novamente... Quem não a conhece e nunca a rezou? :) É linda, sem dúvida!
Um beijinho com muitas, muitas saudades!!
E uma Páscoa muito feliz para si e para todos os seus meninos/homens! :))
Mafalda
Também as minhas estrelinhas, todos os dias rezam o anjinho da guarda. Para mim é das orações mais simples mas mais completas, afinal diz tudo.
Tenho feito almofadinhas com esta oração bordada à mão... para camas de bebés... fico à espera... talvez seja o elo que lhe falta, na corrente da sua vida.
Também me lembro com bastante saudade de ir nas procissões vestida de anjinho.
Beijinhos de uma estrela.
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