5.12.09

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer.


Mia Couto

2 comentários:

Anónimo disse...

Querida Mafalda.
Hoje, como muitas vezes, vim ao seu "Baú" à procura de algum conforto, que por vezes as suas palavras me transmitem, sinto-me só, desiludida, magoada e não compreendida.....
A culpa deve ser do tempo, temos sempre de procurar alguma desculpa, não acha? Este tempo cinzento, deprime-me ...
Quem me dera conseguir através da escrita alcançar alguma paz de espirito.
Gostava de ter como a Malfada o dom da escrita, mas não consigo, o que sinto por vezes é tão intenso que não consigo explicar na escrita, talvez por ter medo de expor os meus sentimentos, que nem sempre são positivos, e muitas vezes para exprimir o que me vai na alma teria de dizer coisas duras e talvez menos bonitas. Obrigado pelo seu blog e da sensibilidade que transmite no que escreve. Beijinhos. F.

Mafalda Branco disse...

Querida F.,
gostava de neste momento conseguir transmitir mais conforto e ânimo do que aquele que tenho transmitido, mas nem sempre consigo arranjar forças para o fazer.
Não tenha medo de expor aquilo que é menos positivo, a vida não é feita só de momentos felizes e nem sempre estamos bem, nem temos que parecer... Já lhe disse várias vezes, escrever alivia, alivia muitas vezes mais quando nos sentimos assim, como se sente neste momento. Mas lembre-se sempre que não está sozinha! Eu, tal como a F., também vejo o mundo assim, como sei que vê, em muitos aspectos! E sei que há mais pessoas assim, felizmente! Neste espaço reúnem-se sempre algumas delas, talvez por isso seja, muitas vezes, o meu e o refúgio de algumas.
Um beijo enorme e um abraço bem forte, porque sei que nesses momentos precisamos de toda a ternura do mundo.
Saudades!... E força!!

PS - A minha desculpa também é, muitas vezes, o tempo cinzento!... O pior é quando está sol e é mais difícil desculparmo-nos! :))