22.2.10

O Silêncio

Fotografia: latoday

Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio,
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas, meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntar o que significam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.


Nuno Júdice, in "A Matéria do Poema"

3 comentários:

Astrid disse...

Acho que vamos ter que criar um novo espaço "Um poema ao dia não engorda e faz crescer"... :)

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

Canção amiga - Carlos Drummond de Andrade

Beijos, flores e estrelas *****

Mafalda Branco disse...

Mari,
que boa ideia! Um blog para amantes de poesia, para dar mais cor e luz aos nossos dias! Why not? :)
Um beijo com todas as cores do arco-íris!

sonja valentina disse...

pequenos prazeres, que acalmam a alma e o espirito!