16.3.10

Culpa

Sorrow, de Van Gogh

"Mas desde cedo tomei esse gostar como um dado adquirido, um caso arrumado, como se o amor não fosse uma força dinâmica, não fosse todos os dias, não fosse todas as veias. Entendi isto muito mais tarde, no dia em que me apaixonei. Soube então que o amor é à chuva e ao vento, é descalço nas pedras, é perdido no mar, é rasgado nos espinhos, é na fome e na sede e na doença e na amargura e no silêncio. O amor é o corpo todo, a alma toda, a vida toda. E come-nos o coração e nós fazemos nascer outro coração no peito para que o amor o devore. Descobri isto, sim, mas estava tão ocupada a descobri-lo que não achei em mim espaço para emendar os meus erros. Ao contrário. Errei mais, cada vez mais, até chegar aqui, onde errar é já uma obstinação."

Rosa Lobato de Faria, in "O Sétimo Véu"

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