19.6.10

Mãos que semeiam sonhos


Numa das noites de partilha à volta da mesa, dediquei este poema aos meus companheiros de missão. Para que se lembrem sempre que, por muito que seja preciso esperar, todas as sementes lançadas à terra com amor dão fruto.
É preciso nunca deixar de sonhar e de acreditar!

Guarda a tua seiva para as raízes e os dedos para a colheita.
E depois detém-te a olhar o fruto, crescendo devagar,
nas tardes que demoram até ao verão. Que te seja redondo,
ao côncavo da mão, e nele reconheças o gosto e o perfume

mesmo antes de tocar-lhe; morde-o longamente com os olhos –
é neles que a polpa faz mais sede e a pele transpira
com o fulgor da cera. E não consintas vento, nem abelhas,
nem que nele repousem outros olhos, muito mais pequenos,
como os que trazem as aves voltando do Inverno. Deixa

o teu nome no pomar durante a noite – há mãos que nunca
dormem e a espera pode tornar os frutos ociosos.
Mas para mais ninguém este se avoluma, à tua boca prometido.
Embala-o então com a verdade antes de partires.
Cerca-o com os teus olhos. Mostra-lhe os dedos
que irás um dia confiar-lhe.

E assim o tempo devolvê-lo-á inteiro a seu tempo, vermelho
e tenro, doce, à espessura dos lábios.

Maria do Rosário Pedreira, in "A Casa e o Cheiro dos Livros"

1 comentário:

Edgar Neves disse...

Doce Mafalda
A terra está lá, foi lavrada, devidamente preparada e a semente já foi lançada, agora com aquele regador pequenino que tem guardado no baú, encha-o de água e regue... Quando crescer, se for um imbomdeiro e tiver força para dar sombra e se por acaso ouvir dizer, que o imbomdeiro só dá fruto quando mudar de roupa... Então acredite! Vai voltar.

Bjs