26.6.10

Mercado de Touba-Toul



Do meu caderninho de viagem, vou retendo algumas palavras. Eis um bocadinho do que escrevi no dia da visita ao mercado de Touba-Toul, um dos maiores do Senegal, no nosso primeiro dia no país...


Nunca imaginei o que encontrei. Nem sei caracterizar. É um misto de pobreza e miséria e de capacidade de sobrevivência e resistência. Ao olhar em volta, a vida corre como em qualquer parte do mundo. Há mulheres, crianças, homens, velhos. Há os que trabalham e os que mendigam. Há deficientes. Há sorrisos à nossa passagem. Há quem levante pedras ou vire a cara contra as fotografias. Por todo o lado há animais, sobretudo burros e cavalos. As carroças passam, às vezes com velocidade, outras em engarrafamento.

Tudo se vende: telemóveis, mangas, a fruta do baobá, cereais, cadeados, animais, corda, refrigerantes... À minha frente, de repente, uma imagem tipicamente africana: uma mulher mói cereais com uma criança às costas. Fico extasiada. De repente, toca um telemóvel. Ela pára o seu trabalho e atende. Eu sorrio, surpreendida e ao mesmo tempo divertida com uma imagem tão ilustrativa da globalização. Ela sorri-me também, não sei se percebeu o meu sorriso ou não. A vida continua.

As crianças são deliciosas. O sorriso, primeiro tímido, depois aberto, contagia, faz perder o medo inicial de quem, como eu, vem de um mundo tão diferente.
Adoro as crianças. E as mulheres. E os homens. Os rostos. O olhar. Apetece ficar horas a ler os olhares. A fotografar, a tentar levar para sempre quem se cruza connosco num segundo, mas consegue, com esse olhar, dar sentido à nossa existência.


Habituo-me ao calor, aos cheiros, aos animais, ao pó, às pessoas, à pele negra. A pele negra mais bonita que já vi. Cruzei-me com uma mulher que parecia pintada a óleo negro: a pele indescritivelmente lisa, suave, una. Foco-me nas cores dos vestidos coloridos, que contrastam com a aridez da paisagem. É incrível este contraste! Uma profusão de cor e brilho no pó do deserto.

1 comentário:

francisca nemesio disse...

Descrição completa, real, sentida ... sem tirar nem pôr! Parabéns Mafaldinha !