15.1.09

Querido avô...

Custa-me cada vez mais entrar em tua casa. O silêncio... o silêncio é ensurdecedor, esmaga-me... A tua casa nunca foi uma casa de silêncios, pelo contrário. A tua casa era uma casa de ruídos de todo o tipo: o rádio logo pela manhã, quando ainda na cama querias ouvir as primeiras notícias do dia, a máquina de barbear na casa-de-banho, a televisão num volume cada vez maior, as conversas ao almoço ou ao lanche, quando bebíamos o café da avó (humm... o café da avó!! uma das coisas melhores do mundo!...), as gargalhadas, os teus passos, o folhear dos livros ou dos dossiers onde guardavas e apontavas tudo religiosamente (desde correspondência a apontamentos sobre as culturas, os animais, as obras, compras...), toda essa vida desapareceu e tornou a casa vazia demais. A avó é uma mulher forte, tu sempre o disseste, aliás dizias sempre que querias partir antes dela. E assim foi. A avó ficou na casa vazia, sozinha, sem ti e sem os teus ruídos, que a enchiam de vida. O silêncio agora é ensurdecedor, avô...

3 comentários:

Edgar Neves disse...

Doce Mafalda (se é que me permite trata-la assim) deixo aqui este lindo poema, porque é adorável passear por este Blogue e voar asa com asa nos seus sentimentos.
Nunca deixe de ser assim. Nunca deixe de acreditar.

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
Ou um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um lugar onde não estou

Às vezes sou também
O tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou um grito
De um amor por acontecer

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que sou
(Maria Guinot)

Anónimo disse...

Ninguém desaparece verdadeiramente, enquanto habitar um lugar quente no nosso coração e na nossa lembrança! :)

M disse...

Por vezes é nos textos mais tristes que está a maior beleza dos sentimentos. Gostei muito desta visita que aqui fiz!