26.1.09
Um mês depois
Faz hoje um mês, avô... Um mês e eu ainda não acredito. Tento refugiar-me no meu dia-a-dia, no trabalho, nos sorrisos e nas brincadeiras dos colegas e amigos, nas pesquisas na internet, nos livros, fujo da tua casa... Mas quando lá volto tudo volta também, sobretudo a certeza, cada vez mais forte, de que é mesmo verdade. Tudo está agora mais velho, mais gasto... olho para os muros do quintal que cultivavas com todo o esforço e dedicação (ainda o ano passado, já doente, podaste todas as árvores...) e vejo as fendas, a humidade, o musgo. Está tudo tão velho, tão gasto! Parece que num mês passaram 20 anos por aqueles muros! O quintal está agora mais despido, quase nu, já sem algumas árvores que a avó quis abater: "Para que é tanta fruta agora?...". Ela é que manda agora (e sempre?...) e ninguém ousou contrariá-la, apesar de nos doer olhar para algumas das árvores que plantaste e cuidaste a jazer na terra molhada. As árvores e a tua vida... Percebo agora que não quero voltar à tua casa sem ti, mas tenho que cuidar da avó. Encho-me de forças, tento distrair-me e não focar o meu olhar em nada, fazer conversa, pedir conselhos... quando ela sai não consigo evitar e as lágrimas caem, tento disfarçar, dizer que tenho pressa e saio, fujo dali, fujo da verdade que me dói tanto! Pego no carro, ligo o rádio, tento cantar, aumento o volume. Como se acelerar e cantar afastassem mais depressa a tristeza... Sinto que arranjei defesas para me proteger, para ter força para os outros primeiro, a mamã, a avó, o Nunito... E a mim, avô, quem me protege como só tu sabias fazer?... O único escape agora é escrever-te estas cartas, com a esperança que no teu céu tenhas aprendido a ler um blog (tinhas tanta curiosidade pela internet e eu nunca te ensinei...) ou que as recebas através do coração, a forma mais eficaz e poderosa de trocar mensagens com alguém... Amo-te e sinto cada vez mais a tua falta!...
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6 comentários:
Olá Mafalda
tente imaginar o seu avô a vê-la de outra dimensão, (do céu..)ele estará sempre consigo.
Quando alguém que nos é muito próximo parte, é sempre assim, fica um vazio, mas se o imaginarmos a olhar para nós onde quer que esteja, isso ajuda a ultrapassar, a distância.
um abraço
Minha querida, enquanto estivermos por aqui a manter a nossa chama acesa, estaremos apenas na infância da nossa imortalidade. Fica bem. Boa semana.
Beijos, flores e estrelas***
Mafalda: Os Avós também nunca morrem....
bj
vb
Doce Mafalda
Os amigos (mesmo que virtuais)também protegem.
Ah! Como é legal a casa dos meus avós,
Lá eu posso tudo,
Lá eu faço tudo,
Lá eu sujo tudo,
E na hora de brigar....
Ao invés de apanhar,
Lá eu levo um beijo
Avós poderiam durar para sempre
Eles são especiais
Amam a gente, com mais força que os pais
Pois são pais por duas vezes
E multiplicam este sentimento sem saber
E nos sufocam de tanto querer...
Feliz de quem os tem,
Pois são muito especiais,
As vezes se parecem velhinhos
Mas são tão bonitinhos
Que dá vontade de guardar...
Lá no fundo do coração,
E tê-los..., sempre na hora da precisão.
(Andréa Libanori)
Bjs.
Minha Pequenina:
Sabes qual é a verdade?
É esta que tu própria escreveste
"...Amo-te e sinto cada vez mais a tua falta!..."
É e será sempre assim
UM grande beijo
Tia
Vim aqui parar por acaso... E ao ler este post chorei... Aconteceu-me exactamente o mesmo há 4 anos atrás... tal e qual... e revi-me em cada palavra, em cada vírgula... A Casa, as cartas, a avó, os outros... Agora só o tempo... Nâo adiantam as palavras, os abraços, os pensamentos... Só o tempo... Muita força!
SB
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