12.2.09

Terra

A noite desceu. Pus um cachecol, saí de casa. Caminhei um pouco até onde conseguia ouvir a água correr. Inspirei fundo. Olhei o céu, a primeira estrela apareceu, tímida, insegura. Depois mais uma, ali outra. Fechei os olhos, pedi um desejo. Continuei a caminhar, a lua começava também a brilhar, a encandear-me com o seu esplendor. Lembrei-me novamente daquela noite, há muitos anos atrás. Eu era uma menina que começava a crescer, tão tímida, tão insegura, como a primeira estrela desta noite. Foi o meu primeiro e único acampamento, junto a um rio gelado, mas incrivelmente belo. Era uma noite de Verão, quente, saborosa, daquelas que parece já não haver. O animador pediu-nos que nos deitássemos no chão e nos deixássemos ficar assim, em silêncio. Primeiro a sensação estranha "no chão? na terra mesmo?"... Depois a certeza. Deitei-me então, sentia a terra húmida nas costas, na cabeça, nas mãos. À minha volta o silêncio, profundo, do mundo. Apenas se ouviam os grilos - maravilhosa sinfonia! - e a água a correr. À minha frente a imensidão, um céu estrelado como nunca mais vi, a sensação de estar só no mundo, de ser insignificante. Por outro lado, a sensação crescente de que era alguém, de que para tudo funcionar eu também precisava de existir, a minha existência tinha sentido! Momento tão simples, revelação tão estrondosa, que mudou a minha vida, a minha tímida forma de ser. Ainda hoje, quando quero recordar-me de que existo por um motivo muito forte, me recordo daquela noite, daquelas estrelas tão brilhantes! E, quase a medo, os meus olhos brilham também, com a mesma timidez que deixei naquela terra tão fértil!

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