
A minha tia faz uma festa sempre que vou a sua casa. E, apesar dos anos e das modas, desde que me lembro que tem sempre o mesmo para me oferecer: línguas de gato. Hoje revimos fotografias antigas e, enquanto comíamos línguas de gato que eu pensava já nem existirem, rimos como duas crianças das diferenças que ao longo dos anos nos vão acontecendo. A minha tia Mimi parece nunca ter saudades do passado, pensa sempre no hoje e no amanhã com um sorriso simples e contagiante.
O meu tio tem 80 anos. Há alguns anos atrás teve um AVC e, durante muito tempo, não soube quem era. Depois, pouco a pouco, recuperou, mas não totalmente. Sempre que o vejo, chora e diz-me o mesmo: "eu já não consigo ler nem escrever". Nunca fala das outras coisas que teve que deixar de fazer, fala sempre da escrita e da leitura. Às vezes penso até que, se pudesse, trocaria o andar por aquelas capacidades. Imagino-o então deitado numa cama, mas rodeado pelos livros que tanto desejava conseguir ler novamente. Fascinante, mas simultaneamente assustadora a forma como o nosso cérebro comanda tudo o que fazemos...
E, de uma visita inesperada, mas tão simples fica-me a certeza de que, aconteça o que acontecer, as histórias da minha família nunca se apagarão das minhas memórias e do meu coração. Conto-as para que vivam sempre, em mim e em quem as ler.
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