17.4.09

Lágrimas Ocultas


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida ...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago ...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim ...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

2 comentários:

Anónimo disse...

A magnífica Florbela Espanca, escreveu este poema para mim... para si... uma coisa eu sei revejo-me totalmente nele, é exactamente o meu estado de espírito. Obrigada por todos estes momentos de Boa leitura! L.E.

Mafalda Branco disse...

É verdade L.E.! Identifico-me muito com a poesia de Florbela Espanca, que me tem acompanhado sempre nos meus momentos de melancolia... Algo mais que nos une! :)
Beijinhos