21.6.09

A poesia tem vida

Deixei ele sentado lá e fui reinar. Descobrir coisas. Como era lindo aquele pedaço de rio. Molhei os pés e vi um mundo de sapinhos pra lá e pra cá na correnteza. Fiquei vendo a areia, os seixos e as folhas sendo puxados pela correnteza. Me lembrei de Glória.

"Deixa-me fonte, dizia
A flor a chorar
Eu fui nascida no monte
Não me leves para o mar.
Ai balanços dos meus galhos
Balanço dos galhos meus
Ai claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu...
E a fonte sonora e fria
Com um sussurro zombador
Por sobre a areia corria
Corria levando a flor..."

Glória tinha razão. Aquilo era a coisa mais bonita do mundo. Pena que eu não pudesse contar pra ela que vira a poesia viver. Não era com flor, mas com uma porção de folhazinhas que caíam das árvores e iam embora para o mar.

José Mauro de Vasconcelos, in Meu Pé de Laranja Lima

1 comentário:

Maggie disse...

Que livro fantástico que me fez chorar a bom chorar em criança. Que saudades do Zézé!