
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
António Gedeão, in "Poemas Escolhidos"
Escultura: Mulher-Árvore, Luís Laroche
3 comentários:
As árvores são amor puro, na sua mais nobre expressão. O seu altruismo consciente não é solidão...
Um beijo para a minha árvore em crescimento :)
As árvores... não poderia ter encontrado espelho melhor... mire-se a ele todos os dias!
Já brilham estrelas no céu!
ps. I´m singing in the rain
just singing in the rain
what a glorious feeling
I´m happy again
tam tam tamram tamtam...
venha cá fora e sinta o cheiro.
Obrigada às duas pelo carinho... :)
Um beijo especial!
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