
...completamente apaixonada pelo Alentejo. Hoje passei o dia ao sol, deitada em enormes almofadas, com uma temperatura de 22º, numa casa absolutamente fascinante, literalmente no meio do nada, onde os únicos sons eram o do vento, do badalo das ovelhas e do cão pastor e da água, a correr de tanque para tanque. Pela casa, cheia de vida, quadros de cores vibrantes, recantos de imenso bom gosto, e livros... um deles da Anita, os meus livros preferidos de criança, que já não via há imenso tempo... outro, maravilhoso, com desenhos de Helena Abreu e poesia de António Gedeão:
"(...)Quando te sentires perdida
fecha os olhos e sorri.
Não tenhas medo da vida
que a vida vive por si."
Delícia. Encontrei o refúgio ideal.
9 comentários:
Estou...
...invejosa! Enquanto isso, há quem esteja enclausurada sete dias em casa... por coincidência com os livros da Anita e com a própria. Caprichos da vida e de uma gripe fantasma (ou talvez não).
Fico feliz de a ver assim, abençoado Alentejo. Já a estou a ver num monte alentejano, quem sabe a trabalhar em turismo rural ou com uma casa para idosos, que por esses lados estão tão sós. Sentada, numa sala branquinha, cheia de coisas de outros tempos, a ler para pessoas ávidas pelo seu sorriso. O Monte da Mafalda, feche os olhos e imagine...
Um abraço L.E.
ps. a adolescente cá de casa adorou o poema e a minha Tulipa (agora quer ser uma tulipa), esquadrinhou a imagem para ver qual era o livro.
Realmente conhece-me bem... Quer ir contar histórias comigo ao Monte dos Sonhos? :) Como é que adivinha isso tudo? E já agora, ontem o céu estava cheio de estrelinhas brilhantes, cada uma mais que a outra!... Um sonho, mesmo!
Beijocas para a Anita, desculpe, para a Tulipa, e para a teenager! :) Ah, e para a estrela-mãe, claro!
Monte dos Sonhos!...Já há um nome... uma semente...
Como percebeu as estrelinhas alentejanas estavam a comunicar, entenda-as e siga o seu coração. Se for para o Alentejo, vá! Se for África, que seja! Sozinha, acompanhada, o que interesssa! Não chegue é aos quarenta e fique a olhar para trás a dizer ai se eu ... Sempre sonhei ir para a tropa e no ano em que pensei casar, o exército abriu as portas às mulheres (não se ria! Eu estou sempre à frente ou sempre atràs, nunca no sítio certo). Fiz a melhor escolha? Podia adiar uma e tentar conciliar as duas? Ai se eu... entende?
L.E.
É de facil paixão o Alentejo, a beleza natural é qualquer coisa..então a paz, essa vale ouro.
Muito bem! Mas que fino! Alentejo, silêncio, sol, sonhos... Parabéns!
Mas como diz a L.E. (que não foi para a tropa) Ai se eu...
E depois não diga que não prometeu... O Alentejo está com um olho em si, mas cá para mim, África está sedenta da sua força, dos seus contos e dos seus sonhos.
A História está à sua espera. Não a faça esperar.
Bjs.
Ena até que enfim, uma postagem cheia de serenidade e felicidade!
Pois eu sei diz ela e eu tbm o alentejo faz destas magias!!!
Boa continuação, você merece!
Beijo
Mafalda, já que é um sonho seu... Sir Edgar, já que gosta tanto de África... e uma vez que eu não fui à tropa... Vamos embora os três? África Nossa!
Bjs aos dois.
L.E.
Bem... este desafio está a ficar sério! Vamos embora então? :)
Estou a adorar estes comentários. Há momentos e palavras que nos marcam, tal como nos marca a emoção que se desperta em nós ao sentir tanto carinho.
Obrigada!
ÁFRICA...TAMBÉM É ISTO.
De um Outubro de 1974, ficou-me para sempre na memória o dia da decisão.
Zona operacional, centro de Angola. (Zona Classificada)
Às 5 da tarde, sou solicitado para efectuar uma evacuação de uma mulher que, pela possível tradução verbal e gestual, estava doente na sua aldeia e que precisava de intervenção médica. O marido tinha vindo a pé e mal calçado pedir ajuda, ao que eu chamo uma “porrada” de quilómetros.
Nasceu a pergunta geral: “Quem vai?”
Sem médico no aquartelamento, e apenas com o enfermeiro, o marido, dois soldados e um guia, tomei a decisão de me fazer à picada, porque afinal era ” já ali” bem perto.
Para quem conheceu África como eu, já ali, pode representar bastantes quilómetros.
Para lá não os contei nem interessava, mas pareceu-me bastante longe. O tempo só contava para chegar o mais rápido possível, mas também receava que estava a entrar para uma cilada.
Chegados à aldeia, depois das “traduções” entre enfermeiro, marido, guia e eu mesmo, concluímos que estávamos na presença de uma mulher grávida ainda fora do tempo do parto.
Ainda hoje me pergunto, o que é que eu fazia naquele lugar, com 22 anos em cima dos ombros, numa noite como breu, com um enfermeiro, dois soldados, um guia, uma mulher grávida de (possivelmente) 7 meses e o marido em pânico.
De volta ao quartel, tomei nota dos quilómetros, mas também já não era preocupação principal.
Se para a aldeia, o caminho deixava andar com a rapidez possível, levar uma grávida em cima de uma viatura militar sem o menor conforto, por uma picada cheia de buracos entre gemidos e dor, foi um caso sério.
Finalmente chegamos. Já bem de madrugada e com uns 32 km percorridos.
Pedi para ficarem instalados numa habitação bem perto onde eu iria esticar o corpo e adormecer e recomendei vivamente que fosse chamado, caso algo estivesse mal.
Tinha tomado a decisão que este caso era demasiado importante para um “puto” de 22 anos.
O sol já tinha chegado e os cheiros de África entravam pela janela, quando sou alertado pelo enfermeiro que algo se tinha passado de anormal.
Corri para a habitação e junto da mulher… Jazia um nado morto. Parto prematuro.
Não era médico, tinha 22 anos, o liceu não me tinha ensinado a ser “parteiro” e sentia uma grande raiva pela minha impotência.
Naquele dia tinha tomado a decisão de salvar alguém, mesmo com muito medo de ser o “Salvador da Pátria”, e no final apenas restou a experiência e a oportunidade de voltar a acreditar e continuar a amar Angola e África.
Bjs.
Enviar um comentário