
Não sei que rumo seguia, para onde ia ou o que me impelia, mas enveredei por uma estrada deserta, esburacada, sem saber onde iria dar. Parei entorpecida. À minha frente o mar, a imensidão do mar. O sol, o calor do sol. Detive-me, esmagada pela beleza. As ondas dançavam o tango que tocava no rádio, numa dança suave, ritmada, apaixonada, quente. A dança não tinha fim, recomeçava sempre mais forte e eu ali, fascinada, a contemplar.
Saio do carro. Estou sozinha, mas, pela primeira vez em muito tempo, não tenho medo. Dispo o casaco, abro os braços, fecho os olhos e sorrio. Desço até à praia, descalço-me, sinto a areia fina, molhada, virgem. Os salpicos da água do mar afagam-me o rosto, salgado pelas lágrimas, o vento abraça-me, faz-me voar. Deixo o sol entrar bem fundo e danço também, com o mar, uma dança apaixonada, apenas compreensível a quem se ama em silêncio. Porque é no silêncio que se ama, é no silêncio que se vive mais intensamente, é no silêncio que se renasce.
Caminho sozinha, como se apenas existisse eu, o mar e o vento. Regresso ao carro, a mesma música. Já é tarde. O sol começa lentamente a despedir-se, como se pedisse para lhe agradecer e retribuir a vida que me deu hoje, de novo. Continuo sozinha, a despedir-me, até a noite chegar. Na viagem de regresso trago um sorriso. E a gratidão.
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